segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Psiquiatra imaginário: A papel

Meu psiquiatra amassava o papel olhando fixamente pra mim com um sorriso amarelo, literalmente amarelo. Jogou o papel em cima de uma mesinha entre nós e me perguntou:
-Então Tina, você viu que eu amassei o papel, sim?
-Sim. -disse eu olhando para o coitadinho do papel jogado, abandonado na minha frente- sim, vi.
-E o que você sentiu? Digo, se você fosse um papel como se sentiria?
-Bom eu não sei... me sentiria mal talvez.
-Desenvolva! - olhava pra mim como se a qualquer momento fosse apontar seu dedo curto na minha cara.- como se sentiria?
Eu estava nervosa. Que cara chato, eu não sou um papel, oras bolas.
-Me sentiria mal... muito mal - disse eu apressada. Que conversa sem sentido- digo... - tentava gesticular com as mãos- sabe?...
-Não. Não sei, Tina, me explique!
-Eu sou o papel.
Soltei isso em um urro e meu Deus eu estava certa eu era o papel. Eu sou um papel.
-Eu sou um papel. Posso servir para algo mas não sou o essencial na vida das pessoas. Elas me usam e quando erram uma simples letra ou palavra me arrancam do caderno, da minha casa e me jogam fora.Eu não sou a culpada pelo erro dessas pessoas mas mesmo assim elas me culpam. Eu quero minha casa!
 Elas fazem jogos em cima de mim e quando tudo termina, quando eu estava me divertindo elas param, enjoam e me jogam fora. Me atiram em cima de outras pessoas me monopolizando e Santo Deus eu não sei o que eu faço, se desvio de tal ou se apenas me deixo ser monopolizada. Eu sou passiva. Sou um papel.
-Prossiga...
-Não sei o que eu faço - virou um desabafo. Eu chorava. Por que eu chorava tanto?- elas me amassam, me rasgam. Eu... Ai meu Deus o que a árvore deve pensar de mim?
-Como, Tina?
-É -e lá ia eu de novo gesticulando com as mão numa tentativa desesperada de ele me entender- a árvore. A minha mãe. Ela fez de alguma forma de alguma maneira ela quis que eu saísse dela, a natureza quis também, mas o pivô é ela. Ela me fez ir ao mundo, ela me deu um caderno. Uma casa. Eu tinha toda minha família do meu lado ali. E as capas, Beijamin eram eles, meus pais. Eles me fizeram, criaram... Eu era só um bloquinho de notas e eles queriam que eu fosse uma folha madura, adulta, uma folha de caderno. Eu fui. Eu sou.- olhei pra folha amassada na minha frente- Bom... eu era -disse eu triste.- Eles se orgulham das minhas outras irmãs folhas mas de mim não, me descartaram. Me sinto sozinha, amassada em formato de bola. Eu não sou gorda para ter formato de bola. Eu sou uma bola por quê? Coitada da minha mãe, coitada da árvore, coitada dessa bola de papel amassada... coitada de mim.
E o maldito psiquiatra me olhava com um sorriso no rosto. Eu não vi a menor graça.

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